segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Meu canto

Lembro o quanto gostava de um quarto que tive. A mobília e a disposição das coisas, me deixava feliz e segura. Para mim, era o meu cantinho, lindo, confortável e até mesmo feito por mim.
Tinha uma parede magenta, uma verde quase água. Tinha um móvel lilás de margaridas brancas e amarelas, tinha as marcações das minhas medidas de altura ao longo dos anos. Tinha uma escrivaninha azul e uma cadeira de diretor. Tinha um cantinho meu, com delicadezas e pequenisses que teimava em manter. Lembranças que de alguma forma, ainda me remetiam ao passado infantil, como anjinhos ou estrelinhas (...).

Aí, veio a copa de 2006 e com ela um curto circuito aqui em casa. Meu quarto pegou fogo. Nada que existia naquela época existe mais. Apenas alguns diários, fotos e lembranças. Depois de tudo resolvido, a nova estrutura do quarto fez com que eu tivesse que dormir com a cama virada para o outro lado. O que mudou completamente a minha vida.

De lá para cá, nunca mais consegui dormir bem. Deve ser porque muitas, mas muitas coisas aconteceram na minha vida. E, preocupada do jeito que sou, sempre quero ter o controle de tudo o que se passa (inclusive do que sinto e do que ainda não descobri), na palma da minha mão, o que de certa forma atrapalha o meu sono.

Esses momentos aqui no quarto, esses momentos de insônia, fazem com que eu reflita sempre e muito. Fazem com que eu questione TUDO. Minhas amizades, meus relacionamentos, minha imagem, minha profissão. Faz com que eu questione minhas atitudes.

Consigo criar uma linha do tempo, com a cronologia exata de como tudo acontece. Seus motivos, correlações e justificativas de o porque cada coisa está em seu lugar. A estrutura mais simples do quarto, sem tantos vínculos, permite que minha cabeça voe para onde quiser, sem ficar presa aqui nos bens do quarto.

Confesso que as vezes passo do ponto e varo noites apenas pensando. Passo mais um pouco e me pego fazendo lista de pendências do trabalho. Não quero que nada escape do meu controle. Nem um grão de areia passe entre meus dedos.
Entro num mundo que apenas eu entendo. É um mundo com algumas cicatrizes, um monte de histórias felizes, de valores que aprendi em casa e na rua, de sensações que já senti e outras que não passam de anseios e elucubrações.
Se antes o lugar (físico) era o que me confortava, hoje são apenas meus pensamentos.

O curioso é que simplesmente tenho a consciência de que nada disso adianta. Ok, as meditações muitas vezes nos colocam no lugar, fazem com que a gente equilibre a emoção e a razão para assim ponderar as atitudes. Mas de nada adianta tanto controle e ansiedade. Sendo que não temos controle sobre a vida. Nem sobre seu percurso, nem sobre as decisões que as outras pessoas tomam e nos frustam.

As vezes tenho vontade de ser mais desapegada, não a bens materiais, porque isso não sou mesmo, mas dos meus pensamentos.
Pois são eles que me movem, eles que me prendem em determinadas atitudes, que fazem com eu tenha esse jeito cuidadoso ao mesmo tempo rígido com as relações.

Tenho saudades do meu leve quarto colorido com margaridas brancas.
E fica aqui registrado mais um desses momentos.

2 comentários:

  1. a ideia de trocar a cama de posição foi minha, desculpa.
    era pra que tudo fosse diferente, tinhamos acabado de passar por maus bocados naquele antigo quarto...tinha muita lembrança.
    pode ir dormir la no meu quarto, tá?
    ótimo texto, como sempre. A quarentena fez bem.

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