segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Pensamentos velozes.

A brisa batia na janela, fazia aquele barulho de madeira antiga se movimento contra o vento. Na varanda, o cachorro vira lata dormia todo esticado, era possível observar apenas seu tórax se movimentando.

O jardim de Monet estampado na antiga tela fixada na parede da sala, observava as flores do lado de fora, que brincavam com o ar e com as abelhas que vinham beijá-las.
O banco amarelo de madeira envelhecida, forrado com uma fina almofada branca que fora preenchida com a paina colhida na última estação, abrigava um corpo leve e quente.
Os chinelos descansavam lado a lado e tomavam conta dos redores. Pernas cruzadas.

Lá estava ela, sentada com seus cabelos loiros, longos e enrolados, um diário e uma caneta na mão. Não conseguia controlar os impulsos de sua mente que atravessava rapidamente entre todas as possibilidades.
Mente com pensamentos que corriam velozes entre as colinas, que pulavam todos os obstáculos, que pegavam carona numa canoa que passava tranquila e davam uma folga para tantas emoções, pensamentos que se esfriavam tomando um banho nas geladas águas da cachoeira.

Eram 3 horas da tarde, o chá estava pronto repousando ao seu lado. A fumaça vinha quente acariciar o rosto dela e instigar com seu cheirinho doce. Despertava uma inspiração mais profunda.
O caderno sem linhas, pois assim era possível escolher a proporção que cada palavra tomaria, começa a ser escrito.

Ela estudava as palavras exatas para expressar aquele sentimento.
Quase que escapava da mão a sensação de auto controle. Seus olhos brilhavam ao mesmo tempo que seu coração disparava apenas por pensar no que acontecera.
Esse misto de emoções era traduzido no papel, ela queria escrever para eternizar aquele momento, mais que isso, queria que as palavras tomassem vida sempre que relidas e proporcionassem a mesma sensação de bem estar sentida na primeira vez. Descarga de boas energias, que o corpo agradecera.

Anterior àquele episódio, muitas vezes ela imaginava como seria, mas seu juízo roubava-lhe o pensamento e obrigava-a a voltar com os pés para o chão.
Pensava no cheiro, na textura, no calor, no coração acelerado, na troca de olhares e no momento que as bocas iriam se encontrar. Para que pensar tanto se tal cena talvez nunca se concretizasse?

E então o grande dia.
De repente no palco só estavam presentes ela e ele. A lua cheia iluminava seus rostos e observava de longe o que acontecia, já sabia como aquele espetáculo iria se desenrolar.
Algumas caricias trocadas, palavras jogadas ao vento. Sentia que ficaria todo o verão remontando aquele dia, enquanto estivesse sentada em seu banco amarelo.

Naquele momento tocava uma música leve ao fundo e o cheirinho de dama da noite banhava o espaço.
Foi uma questão de tempo para que os corpos pudessem se aproximar, as mãos quase que geladas e meio trêmulas se tocassem e então os olhos já semi cerrados se fechassem por completo, dando vez para o memorável beijo.

O beijo. Perfeito, inesquecível, incontrolável, um misto de desejo e realidade, de proibido e fatalidade. Era inevitável. Apenas aguardava o tempo certo de acontecer.

Fim do primeiro ato.


Um comentário:

  1. Você é escritora?
    Tive a sensaçao de estar lendo um livro muito bem escrito e gostoso de ler.
    Amei, simplesmente amei seu texto.
    Parabéns.
    PS: Ansiosa para os proximos atos.

    beijos

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