E no meio das férias de julho, me pego fazendo uma prova de marketing destinada à graduação do 3º ano da turma que acompanho no curso de professor do futuro. E lá tinha a seguinte pergunta, qual é a principal influência dos desejos e do comportamento de uma pessoa? Dentre as opções, personalidade piscou diante dos meus olhos. Ao mesmo tempo que eu já formulava minha defesa para aquela questão, fui atrás da resposta e vi que eu estava errada. O fator que mais influencia uma decisão é a cultura.
Minha resposta baseou-se no fato de que por mais que uma pessoa tenha sido criada numa família de pais religiosos, ela pode ser um rebelde, um extremista, sair por aí massacrando gente inocente, colocando outros valores como certos para sua vida que não apenas os ditados pelos seus pais. E o que é mais forte que sua criação e que vai ditar a forma de agir de um cidadão, na minha opinião, é a sua personalidade.
Ela é quem vai conhecer seus instintos mais primitivos, vai ser seu guia, seu feeling para agir e decidir entre o certo e o errado, terá tatuado todos os seus rancores e satisfações que serão a causa mãe de suas atitudes, saberá o momento em que seu coração dispara e o momento em que a garra de continuar ou desistir será aflorada em sua consciência.
Mas o que é então a raça humana desprovida da sociedade e sua cultura? Das datas comemorativas alimentadas por um sistema caótico e burguês? O que é a grandiosa festa de casamento, a viagem internacional, as fotos tomando champagne na proa da lancha senão vestígios dessa cultura que absorvemos? Tenho de concordar que mesmo sem saber, somos guiados pelas mãos divinas da sociedade, muitas vezes carregadas de suas tradições, do senso (ultrapassado) comum que anda nas ruas, da amiga-da-vó-da-tia que julgou sua última decisão. E, principalmente, pelas influências culturais que recebemos desde que nascemos, muitas delas providas da ação manipuladora do mass media, ou se preferir mídia de massa, que está estampada em nossas caras.
Mas então que mundo é esse que fatores externos ditam mais do que nossa essência? Será que se morássemos no padrão de vida da Lagoa Azul, até hoje, seriamos mais puros, desprovidos de máscaras e vícios? Até o personagem do Manoel Bandeira se enganou, achando que Pasárgada o traria mais felicidade, mas até a pequena cidade da Pérsia, hoje chamada de Murghab, o enfeitiçaria com seus delírios burgueses. O tornaria escravo desse modo inconsequente de tomar decisões pautadas em realidades que não são as suas.
''(...) Vou-me embora pra Pasárgada
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que eu nunca tive
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
Lá sou amigo do rei
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada''
Fica a reflexão sobre as ondas culturais que você é impactado, será que você precisa mesmo de um carro novo ou basta passar a tarde jogando bola de gude com seus filhos para se sentir plenamente satisfeito?