‘’Prometi para um amigo que este texto seria mais doce, que lapidaria as pontinhas para que ficasse leve e delicado, sem minhas pitadas amargas dos últimos posts.’’
Antes de ser psicóloga, minha mãe era professora do ensino infantil, ela sempre me colocava para brincar com argila e aquelas massinhas coloridas, pedia para que eu moldasse o que estava sentindo no momento que brincava. Era um pouco difícil e nada sabia da importância que aqueles exercícios teriam mais para frente, aos poucos iam saindo um boneco de neve, uma família, um cachorrinho, uma bola...
Se caísse um copo no chão minha mãe não brigava, ela olhava e dizia: ‘’Viu? É isso que acontece.’’ O mesmo se repetia se deixasse cair um ovo, se escorregasse, se manchasse uma roupa, se tirasse notas baixas na escola. O objetivo dela era simples e genuíno, que experimentasse a vida sem tantos nãos, sem tantas amarras, porque a vida já se encarregaria disso, em casa, o cenário seria um pouco diferente.
Esse jeito de educar fez com que eu e meus irmãos fossemos mais livres ao mesmo tempo mais maduros e responsáveis, pois sabíamos que ela fazia isso, nos deixava soltos, porque confiava que não faríamos besteira.
A velocidade com que as informações são atualizadas nos sites de notícias e nas redes sociais, provoca, em algumas pessoas, a vontade de estar sempre criando, inovando, atualizando... postando.
Confesso que fui atingida por essa onda e me senti um pouco frustrada por, neste momento, não ter nada para falar. Fui tentar achar a causa desse meu vazio, como se algo estivesse errado e eu precisasse urgentemente consertar. De repente me veio uma vontade fora do normal de buscar incessantemente novas emoções, aventuras e experiências.
Fiquei com vontade de fazer uma fogueira, de ficar até de madrugada na praia, de morrer de rir numa balada com os amigos, em morar numa casa com pessoas de todos os cantos, em morar fora do país, em fazer uma tatuagem, em morar na praia, em aprender mandarim....ahhhhh quanta coisa eu quis fazer nesses 5 minutinhos que pensei.
Assustei-me.
Pensei que tudo isso se resumia apenas em viver.
Então será que minha vida está monótona e cotidiana demais? Como pode ser se estou sempre fazendo coisas diferentes, conhecendo lugares que nunca estive, fazendo novos amigos, marcando viagens incríveis, vivendo mudanças significativas na minha profissão, fazendo um curso que amo....pensei um pouco mais e cheguei a uma conclusão: tem momentos na vida que apenas queremos ficar mais quietos, outros queremos falar, outros sumir. Queremos escutar o barulho dos passarinhos lá fora, queremos não atender o telefone, não responder a uma mensagem, queremos apenas ouvir nossa respiração, acordar, cumprir com as obrigações e diversões e acordar para um novo dia. E não havia nada de errado comigo, apesar dos meus devaneios, apenas queria ficar em silêncio.
Desvendei o meu "problema" quando lembrei da minha mãe e expressei o que estava sentindo. Tranquilidade e silêncio.
Diferente da argila, que materializa para sempre o que é esculpido, a massinha permite que você volte atrás e refaça suas opiniões.
Foi o que eu fiz, antes fiz uma mistura de cores confusas, hoje o produto final é um céu azul.
Foi o que eu fiz, antes fiz uma mistura de cores confusas, hoje o produto final é um céu azul.
Fiz dos meus pensamentos um pedaço de massinha. Dificilmente é assim tão fácil expressar os sentimentos, ainda mais se eles envolvem tantas nuances de um mesmo querer.
Gostei do resultado final.